Horticultores brasileiros e estrangeiros passaram os últimos dias conhecendo o que há de mais moderno nas culturas intensivas. E a boa fase do setor, mesmo em época de crise financeira, ficou evidente com o volume de negócios fechados na 23ª edição da Hortitec, feira realizada em Holambra, interior de São Paulo.
Por causa das perdas causadas pela instabilidade do clima, os sistemas de cultura protegida foram os mais procurados pelos visitantes. Com duas garrafas de vidro e outras quatro de plástico, mangueiras e um reservatório de água, o pesquisador Washington Melo, da Embrapa, criou um sistema de irrigação solar automático já usado por escolas, creches e produtores rurais de diferentes regiões do país.
“Quando o sol incide na garrafa preta e dentro dela tem ar, o ar aquece, se expande e empurra a água que se encontra na garrafa pequena, que está conectada a garrafa preta. A água sai e vai pra outro recipiente, utilizado pra irrigação. Você pode viajar tranquilo, deixar sua roseira ou sua horta, verdinha”, explica o pesquisador.
Pelos pavilhões, corredores e estandes da Hortitec, dá pra se perder com a avalanche de soluções para a horticultura. Presente no Brasil há 50 anos, a multinacional japonesa Sakata, além de novas variedades de flores para decoração, apostou em 14 variedades híbridas de sementes para chamar a atenção do homem do campo.
“O Brasil tem uma característica muito diferente das regiões originais dos materiais cultivados. Então a gente faz uma busca por materiais mais adaptados pra essas condições”, diz Nelson Tajiri, presidente da empresa.
Fabricante de fertilizantes foleares, a Aminoagro quis se destacar oferecendo facilidade para o cliente. Criou um manual sobre o uso de insumos, desde o preparo do solo até a pós-colheita. “O portfólio, não só nosso mas dá maioria das empresas, estava muito amplo, e isso acabava confundindo o produtor. Então nós revimos todo nosso portfólio, procuramos simplifica-lo ao máximo e soltamos recomendações por cultura, para diferentes regiões”, afirma o diretor comercial Michel Butnariu.
E o produtor que tiver dúvidas teve a chance de contar com a presença de especialistas do agronegócio, como o consultor Chukichi Kurozawa, que tem no currículo 30 anos como professor e veio a convite de uma multinacional alemã.
“Esse contato é muito importante porque muitas vezes o produtor pode estar usando uma variedade não muito adequada, aplicando produtos e defensivos que muitas vezes não têm tanta eficiência. Acaba produzindo alimento não com boa qualidade”, diz o consultor.
O produtor José Antônio Gumiero também vê benefícios nessa troca de experiências: “Cada ano que a gente vem, só leva coisas novas embora. Coisas melhores, coisas boas. Aqui tem profissionais que nos dão o suporte que a gente precisa lá na roça”.
O clima instável do último ano fez um segmento em especial se destacar nesta edição da feira. Apesar do investimento ser alto, as empresas de sistemas de hortas protegidas registraram um aumento de 20% nos negócios em relação à feira do ano passado. “Esse produtor vai ter uma faixa de uns 80% de garantia, de proteção em relação ao cultivo convencional no solo”, afirma o hidrólogo Carlos Orlandi.
- hidrólogo
A Feira também atrai produtores de outros países como o Martin Rojas. Ele veio de La Paz, na Bolívia, para fazer orçamento do projeto de hidroponia para o cultivo de hortaliças: “Nós não temos muita tecnologia na Bolívia, e o Brasil tem muitos avanços, especialmente em hidroponia. O clima em La Paz é complicado, e a tecnologia ajuda a melhorar isso”.
“Enquanto o mercado está crescendo em torno de 7%, 8%, a feira surpreendeu as nossas expectativas com essa visitação recorde e com todo esse interesse. A gente percebe que o pessoal está procurando muita tecnologia, muito investimento. A gente imagina que deva fechar o movimento de todos os expositores da feira acima de 20%. Algo em torno de R$ 120 milhões”, contabiliza Renato Opitz, diretor geral da Hortitec.